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FINALISTA: LUCAS RUAN
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Me chamo Lucas Ruan, possuo 20 anos e participei dos 1001 poetas que, no que diz respeito a publicações por editoras, foi minha primeira aquisição. Nunca fui uma pessoa com talentos populares como futebol, sinuca, competições de bebidas etc., e fui uma criança com um desenvolvimento precoce no que diz respeito às percepções do mundo. Antes dos cinco anos, segundo me contavam, eu costumava observar minhas próprias mãos com grande atenção, e meu profundo interesse pelas ciências da natureza foram oriundos – ou ao menos desencadeados – dessa época. Minha mãe contava que treinava anatomia em minhas mãos, razão pela qual eu soube citar os ossos do corpo antes mesmo de aprender a ler. Meu primeiro contato com as artes foi aos cinco anos; tenho memórias de, nessa idade, tocar o piano de meu pai, que era músico e logo procurou me ensinar. Ele podia ser a pessoa mais cândida do mundo em diversos aspectos, mas no que dizia respeito à música, ficava agressivo como um cachorro tomado de raiva. Aos sete anos eu costumava pensar “se eu fizer o que as pessoas esperam de mim, me deixarão em paz” e isso desencadeou o que hoje pode ser reconhecido como um traço de personalidade. Sempre fui de natureza solitária e introspectiva. Tenho memórias de, nessa mesma idade, expressar isso como numa fantasia de criança ao dizer “acho que não sou desse planeta... Devo ser de alguma espécie alienígena”.
Por volta dos doze anos – tanto por minha própria constituição como por inúmeros eventos externos – minha natureza voltou-se inteiramente para dentro e um profundo silêncio tomou conta de mim. Me fechei contra tudo, em profunda raiva e melancolia. Isso fez com que as pessoas que não tivessem sido empurradas por mim para fora de minha vida, saíssem dela por conta própria. Com esses desenvolvimentos nas artes, nas ciências e – em minha constituição – na filosofia, minha alegria não teve limites quando encontrei, aos quinze anos, aquele que se tornaria para sempre meu escritor favorito: Edgar Allan Poe. Devorei a bibliografia deste autor que tanto me cativou, tanto me arrebatou em rompantes de compreensão e identificação, e o fiz em muito pouco tempo. Minha primeira tentativa de escrita literária foi, para todos os efeitos, uma continuação e um final para sua obra não terminada, intitulada “O Farol”. Desde então, foi como se um pacto tivesse sido firmado; não houve arte, ciência, filosofia ou filologia pela qual eu não me aventurasse em busca de expressão ou compreensão. Mas até então minhas aventuras pelas artes se baseavam em uma contemplação daquilo que eu encontrava e com que eu me identificava. Foi, então, que conheci Nietzsche. Consagro, sobre o filósofo, a coroa de louros e o coloco ao lado de Poe como os artistas mais importantes com que já me deparei; pois enquanto este me mostrou que o que eu possuía era belo e, com o devido empenho, poderia ser artístico, àquele me mostrou que não se poderia aceitar tudo como arte, que certas coisas deveriam ser enaltecidas ou refutadas, que só se atinge grandeza em si mesmo, por si mesmo, para si mesmo... Quando meus empenhos nas criações artísticas foram barradas pela ausência de vivências e de acontecimentos para serem narrados, Nietzsche foi o psicólogo e filósofo que me instigou a voltar os olhos para a vida como causa e para as artes como efeito, mas que deveria ser buscado em seu estado último.
sso desencadearia um traço marcante, creio, em todos os meus escritos: as investigações psicológicas. Indivíduos trancados em quartos, sentados no chão, no escuro, ruminando sobre seus próprios pensamentos –
isso não é ficção, isso são meus dias. Em resumo – concisamente grosseiro – poder-se-ia dizer que Poe me ensinou a olhar para a arte em mim e Nietzsche me ensinou a olhar o cinismo, o veneno, a podridão de um mundo exterior que reclama sua decadência vertiginosa. Por fim, pode-se dizer que meus princípios literários giram em torno de quatro constelações: escrever sobre o que sinto; como sinto, o que penso sobre o que sinto e, a partir da ótica de meus sentimentos, como eu enxergo esse mundo canceroso que morre de sufocamento. Porque “há acordes nos corações mais inconsequentes que não admitem ser tocados sem emoção”, e qual melhor emoção senão a da “arte, ciência e filosofia” que “crescem em mim tão conjuntamente que vou acabar parindo centauros”?
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